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terça-feira, 13 de março de 2007

Filosofando com Cinema

Matrix: a pílula vermelha e a filosofia Platão

O filme Matrix pode ser, como tantos outros, interpretado de várias maneiras. Mas, a leitura que nos interessa aqui no site chave da filosofia define Matrix como uma maneira de tratar de filosofia, escolher entre a pílula vermelha e a pílula azul indica filosofar ou não filosofar, eis a questão.
Não é equivoco supor que Matrix, o primeiro filme da trilogia foi inspirado, em certa medida, no livro VII da obra A República de Platão (a famosa Alegoria da Caverna). Nessa obra, tal como no filme, as pessoas vivem aprisionadas, acorrentadas nas pernas e no pescoço. Por um lado, correntes que impedem que as pessoas enxerguem a realidade fora do interior da caverna. Por outro, no caso do filme, um sistema de controle que prende as pessoas em casulos que drenam a energia dos prisioneiros, alimentando o sistema. As duas situações se equivalem e os prisioneiros “parecem-se conosco” (515 a). O que fica explicito nas palavras de Morfeu: “Neo, você é um escravo. Como todo mundo você nasceu num cativeiro, nasceu numa prisão que não consegue sentir ou tocar; uma prisão para a sua mente.” No texto de Platão, Sócrates diz: “precisarás aplicar essa alegoria a tudo (...) para comparar o mundo percebido pela visão com o domicílio carcerário” (517b).
O problema é que os prisioneiros não sabem que estão presos; a libertação é doída e no inicio o ex-detento está cheio de desconfiança porque não consegue vislumbrar outra possibilidade fora do mundo irreal. Na Alegoria da Caverna Platão diz que após ser liberto, o prisioneiro vai demorar a se acostumar com a luz e no começo irá supor que as sombras que enxergava no interior da caverna são mais verdadeiras do que a realidade do lado de fora. O que é muito semelhante ao processo pelo qual Neo passa depois de aceitar a pílula vermelha. Nossa interpretação identifica a pílula vermelha como o elemento que deflagra a aventura filosófica, a interrogação que coloca a matrix sobre suspeita, que desconfia da caverna. Em outras palavras, a pílula vermelha é uma atitude filosófica, questionar “o que é?”, “como é?”, “por quê?”.
O filme, assim como o texto de Platão, pode funcionar como um convite que nos levará ao percurso feito por Neo, descobrir que nunca usou os olhos, ficar surpreso que a realidade não seja da maneira como ele sempre acreditou e lhe foi ensinado. O mais interessante é buscar o mesmo que Neo, descobrir o que é a matrix, o que é a realidade. Uma investigação que cada um de nós pode realizar após tomar a atitude filosófica como um “guia” diante da realidade. Ou seja, experimentar uma atitude filosófica diante da realidade pode nos deixar como Neo diante de Morfeu, atônitos, espantados com o que se esconde por trás dessa realidade, um deserto onde as pessoas alimentam o sistema de controle.
“O que é a matrix? Um sistema de controle”, diz Morfeu. Por exemplo, entre as diversas maneiras de interpretar as palavras de Morfeu, o cenário em que as pessoas estão presas nos casulos, conectadas pela base do cérebro e a descrição da caverna feita por Platão, escolhemos uma que entende a matrix e a caverna como a realidade em que vivemos. Nessa realidade nossas correntes são os meios de comunicação que oferecem fórmulas prontas, contribuindo para fabricar desejos, as correntes estão na cultura consumista que nos convida a solucionar qualquer problema através da aquisição de uma mercadoria. Numa realidade desse tipo, as pessoas compram mercadorias em prestações longas e durante o tempo em que estão pagando (a vida toda) ficam escravizadas e não se atrevem rebelar. Por isso, a matrix não pode dizer quem você é, porque ela pretende que você sirva determinados interesses que não são “seus”. No caso da pílula vermelha – atitude filosófica –, ela tal como Morfeu e o oráculo, não examina as questões em termos de “certo” e “errado”; mas “pode ajudar”, nas palavras de Morfeu, “a encontrar o seu caminho”. Morfeu: “eu disse que só posso mostrar a porta, você deve abrir”.
Eis o convite, experimentar a pílula vermelha, questionar o que é óbvio, as idéias prontas, examinar criticamente a realidade que nos cerca, o que somos, como vivemos, os porquês dessa realidade. O convite está feito, a chave está dada! Agora é você quem decide abrir a porta...

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